Pr. Pastor Rilson Mota
O cristianismo enfrenta um momento crucial em sua história no século 21. A Igreja, que deveria ter Cristo como seu centro, muitas vezes se encontra influenciada por ideologias e práticas que colocam o homem no foco de sua missão e propósito. Esse desvio, onde o centro da fé deixa de ser Cristo para tornar-se o próprio homem, é conhecido como antropocentrismo. A igreja cristocêntrica, que exalta a Cristo e busca a transformação do homem pela santidade, perde espaço para uma igreja que foca nas necessidades e desejos humanos, na busca por satisfação pessoal e nos ensinamentos diluídos que buscam agradar a todos.
1. O Desvio da Centralidade de Cristo
O fundamento do cristianismo sempre foi a pessoa de Jesus Cristo. Ele é o “autor e consumador da nossa fé” (Hebreus 12:2). No entanto, na igreja antropocêntrica, Cristo muitas vezes é rebaixado a um mero exemplo de boas ações ou a um mestre moral, em vez de ser adorado como Senhor e Salvador. A mensagem da cruz é suavizada para atrair um público maior, ignorando a necessidade de arrependimento e santidade.
Versículo de Fundamentação:
- 1 Coríntios 1:23-24 — “Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus e loucura para os gregos; mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus.”
Ao reduzir o papel de Cristo, a igreja perde seu poder e sua mensagem. O Cristo crucificado e ressuscitado é a essência do Evangelho; sem Ele, nossa fé se torna uma filosofia vazia, sem poder transformador.
2. A Cultura do “Eu” e o Desafio do Discipulado
O século 21 exalta o individualismo e o “eu” acima de tudo. Muitos líderes e igrejas abraçaram essa cultura, promovendo uma teologia de autossatisfação, onde o foco é a realização pessoal em vez da obediência a Cristo. O chamado ao discipulado, onde Jesus diz: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Marcos 8:34), é ignorado ou reinterpretado de maneira a tornar a fé um meio de autobenefício.
Versículo de Fundamentação:
- Lucas 9:23-24 — “E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me. Porque qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará.”
A igreja antropocêntrica promove um cristianismo sem renúncia, mas a Bíblia é clara ao dizer que seguir a Cristo implica sacrificar nossos próprios desejos e interesses. O verdadeiro discipulado exige entrega total e, muitas vezes, vai contra a corrente do mundo.
3. O Crescimento do Farisaísmo e do Formalismo Religioso
A igreja do século 21 enfrenta uma tendência crescente de farisaísmo, onde práticas externas são valorizadas mais do que o coração transformado. Esse farisaísmo moderno preocupa-se com a imagem, com a popularidade nas redes sociais, com eventos e números, mas não com a verdadeira conversão e santificação dos membros. O culto se torna um espetáculo e o Evangelho é diluído para atrair multidões, tornando-se uma mensagem rasa e sem profundidade espiritual.
Versículo de Fundamentação:
- Mateus 23:27-28 — “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia. Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniquidade.”
Jesus condenou duramente o farisaísmo, pois ele distorce a verdadeira fé em uma prática de aparências. Hoje, muitos cristãos caem nesse mesmo erro, buscando parecer espirituais sem realmente viverem os valores de Cristo.
4. A Busca pelo “Evangelho da Prosperidade”
O Evangelho da Prosperidade, que promete riqueza e bênçãos materiais para aqueles que têm fé suficiente, transformou a igreja em um palco para práticas manipuladoras. O foco deixa de ser Cristo e o Seu Reino e passa a ser a busca por benefícios terrenos. Esse desvio do Evangelho centraliza a fé no “ter” em vez do “ser” e distorce a verdadeira mensagem de Cristo, que ensina que o Reino de Deus não é sobre acumular riquezas neste mundo.
Versículo de Fundamentação:
- 1 Timóteo 6:9-10 — “Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda espécie de males.”
O verdadeiro Evangelho nos convida a buscar primeiro o Reino de Deus e a Sua justiça (Mateus 6:33). Essa ênfase materialista é uma das marcas da igreja antropocêntrica que trocou a eternidade pela busca de ganhos temporários.
5. O Desafio de Permanecer Fiel ao Evangelho
Ser cristão no século 21 significa enfrentar o desafio de permanecer fiel ao Evangelho em meio à pressão de se conformar ao mundo. Paulo advertiu a Timóteo a “pregar a palavra, a tempo e fora de tempo” (2 Timóteo 4:2). Hoje, muitos se afastam do ensino bíblico para seguir doutrinas que “coçam os ouvidos” (2 Timóteo 4:3), buscando agradar as pessoas em vez de agradar a Deus.
Versículo de Fundamentação:
- Gálatas 1:10 — “Porventura, procuro eu agora o favor dos homens, ou o favor de Deus? ou procuro agradar aos homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo.”
Ser cristão autêntico significa estar disposto a nadar contra a corrente e a proclamar a verdade, mesmo quando ela é impopular. Esse é o chamado do Evangelho: viver e pregar o que Cristo ensinou, sem compromisso com o que o mundo deseja ouvir.
A igreja cristã enfrenta tempos desafiadores no século 21. O antropocentrismo, o farisaísmo moderno e a busca pela autossatisfação ameaçam distorcer o verdadeiro propósito da fé cristã, que é glorificar a Deus e exaltar a Cristo. Em meio a uma sociedade que busca satisfação pessoal, riqueza e aparência, o desafio é relembrar o verdadeiro Evangelho — aquele que chama ao arrependimento, à santidade e à transformação pela cruz de Cristo.
Que possamos retornar a uma igreja verdadeiramente cristocêntrica, onde Cristo seja o centro e onde o Evangelho seja pregado com verdade e integridade. Que nossa oração seja a de João Batista: “É necessário que ele cresça e que eu diminua” (João 3:30).
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