
Por Pr. Rilson Mota
O tema dos dízimos e ofertas é um dos mais debatidos no contexto religioso atual, especialmente nas igrejas evangélicas, onde a prática do dízimo é frequentemente apresentada como uma obrigação espiritual. Contudo, uma análise cuidadosa das Escrituras, conforme abordada no artigo “O Dízimo do Velho Testamento versus o Dadivar do Novo Testamento” de Anderson, disponível no site solascriptura-tt.org, revela diferenças significativas entre o dízimo do Velho Testamento e o princípio do dadivar no Novo Testamento. Este artigo explora essas distinções, fundamentando-se exclusivamente na Bíblia, com o objetivo de esclarecer o que as Escrituras ensinam sobre o assunto.
O Dízimo no Velho Testamento
No Velho Testamento, o dízimo era uma prática instituída sob a Lei Mosaica, específica para o povo de Israel. A palavra “dízimo” significa “décima parte” e referia-se à obrigação de entregar 10% dos produtos agrícolas ou do gado para propósitos específicos. Conforme descrito em Levítico 27:30-32, o dízimo era destinado ao sustento dos levitas, que não possuíam herança territorial, pois seu papel era servir no templo (Números 18:21-24). Além disso, havia outros dízimos, como o dízimo anual para as festas (Deuteronômio 14:22-27) e o dízimo trienal para os pobres, órfãos e viúvas (Deuteronômio 14:28-29).
Um ponto crucial é que o dízimo no Velho Testamento não era voluntário, mas uma exigência legal, funcionando como uma espécie de imposto religioso e social para manter a estrutura do culto e da nação de Israel. Malaquias 3:8-10, frequentemente citado por defensores do dízimo, reforça essa obrigatoriedade, advertindo que reter o dízimo era considerado “roubar a Deus”. No entanto, esse texto é dirigido ao povo de Israel sob a Antiga Aliança, em um contexto de desobediência à Lei, e não pode ser diretamente aplicado aos cristãos do Novo Testamento, que vivem sob a Nova Aliança.
O Dadivar no Novo Testamento
Com a vinda de Jesus Cristo e o estabelecimento da Nova Aliança, a Lei Mosaica, incluindo suas ordenanças cerimoniais como o dízimo, foi cumprida (Mateus 5:17; Hebreus 8:13). No Novo Testamento, não há mandamento explícito que obrigue os cristãos a praticar o dízimo. Em vez disso, a ênfase recai sobre o princípio do dadivar, que é caracterizado pela voluntariedade, generosidade e alegria.
Passagens como 2 Coríntios 9:6-7 destacam que cada crente deve dar “conforme propôs no seu coração, não com tristeza, nem por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria”. Esse ensino reflete a liberdade cristã, onde a motivação para contribuir não é a coerção da Lei, mas o amor a Deus e ao próximo. Outro exemplo está em Atos 20:35, onde Paulo cita Jesus dizendo: “Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber.” A generosidade, portanto, é um reflexo da graça de Deus na vida do crente.
Além disso, as ofertas no Novo Testamento não estão limitadas a uma porcentagem fixa, como o dízimo. Em 1 Coríntios 16:1-2, Paulo instrui os crentes a separarem uma oferta conforme sua prosperidade, sugerindo proporcionalidade, mas sem impor uma quantia específica. Exemplos de generosidade extrema, como a viúva que deu tudo o que tinha (Marcos 12:41-44), mostram que o valor da oferta não está na quantia, mas na disposição do coração.
Diferenças Fundamentais
- Natureza: O dízimo era uma obrigação legal, enquanto o dadivar é voluntário e motivado pela graça.
- Finalidade: O dízimo sustentava o sistema levítico e a nação de Israel; as ofertas no Novo Testamento visam suprir as necessidades da igreja, dos pobres e da obra missionária.
- Quantidade: O dízimo era fixo (10%); as ofertas não têm uma porcentagem estipulada, dependendo da capacidade e do coração do doador.
- Contexto: O dízimo estava vinculado à Antiga Aliança; o dadivar reflete a liberdade da Nova Aliança.
Refutando a Obrigatoriedade do Dízimo Hoje
Muitas igrejas modernas defendem o dízimo com base em Malaquias 3:8-10, alegando que não dizimar é “roubar a Deus” e traz maldição. Contudo, essa interpretação ignora o contexto histórico e teológico. A maldição mencionada em Malaquias aplica-se à nação de Israel sob a Lei, não aos cristãos libertos pela graça (Gálatas 3:13). Além disso, o Novo Testamento nunca associa a falta de dízimo a maldições, mas enfatiza a bênção de dar com alegria.
Outro argumento comum é que o dízimo é necessário para sustentar igrejas e pastores. Embora a Bíblia encoraje o sustento dos que pregam o evangelho (1 Coríntios 9:14), isso não implica a obrigatoriedade do dízimo. A generosidade cristã, guiada pelo Espírito Santo, é suficiente para suprir as necessidades da obra de Deus, como demonstrado pelas igrejas primitivas (Atos 4:32-35).
Conclusão: Generosidade na Liberdade Cristã
A análise bíblica mostra que o dízimo, como prática obrigatória, pertence ao contexto da Antiga Aliança e não é um mandamento para os cristãos. No Novo Testamento, o chamado é para um dadivar generoso, voluntário e alegre, que reflete a graça de Deus e o amor pelos outros. Isso não significa que os cristãos devam dar menos, mas que devem dar mais, não por medo de maldição, mas por gratidão e desejo de servir.
Como Anderson conclui em seu artigo, a palavra-chave é “generosa voluntariedade”. Os crentes são encorajados a superar a mentalidade legalista do dízimo e abraçar a liberdade de contribuir conforme o Espírito os guia, seja 10%, 30% ou até tudo, como fizeram alguns exemplos citados (). Que possamos, como filhos de Deus, dar com alegria, sabendo que “o Senhor ama ao que dá com alegria” (2 Coríntios 9:7).
Referências:
- Anderson. “O Dízimo do Velho Testamento versus o Dadivar do Novo Testamento”. Disponível em: https://solascriptura-tt.org/VidaDosCrentes/ComRiquezas/DizimoVT-X-DadivarNT-Anderson.htm[](http://solascriptura-tt.org/VidaDosCrentes/ComRiquezas/DizimoVT-X-DadivarNT-Anderson.htm)
- Bíblia Literal do Texto Tradicional (LTT).
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