Calvinismo versus Arminianismo versus a Verdade de Jesus: Uma Análise Bíblica

Por Pr. Rilson Mota

O debate entre Calvinismo e Arminianismo é um dos mais intensos e polarizantes no meio cristão, especialmente em igrejas reformadas e evangélicas. Essas duas correntes teológicas, nomeadas em homenagem a João Calvino e Jacó Armínio, apresentam visões contrastantes sobre a soberania de Deus, o livre-arbítrio humano e a salvação. Contudo, ao confrontarmos essas doutrinas com os ensinamentos de Jesus nas Escrituras, surge a necessidade de buscar a verdade bíblica acima de sistemas teológicos humanos. Este artigo examina os pontos centrais do Calvinismo e do Arminianismo, contrastando-os com a mensagem de Jesus, com o objetivo de oferecer uma perspectiva centrada nas Escrituras.

O Calvinismo: A Soberania Absoluta de Deus

O Calvinismo, fundamentado nos ensinamentos de João Calvino no século XVI, é frequentemente resumido pelos cinco pontos da TULIP:

  1. Depravação Total: O homem, após a queda, é incapaz de buscar a Deus por si mesmo devido à sua natureza pecaminosa (Romanos 3:10-12).
  2. Eleição Incondicional: Deus escolhe soberanamente quem será salvo, independentemente de méritos humanos (Efésios 1:4-5).
  3. Expiação Limitada: A morte de Cristo foi destinada apenas aos eleitos, não a toda a humanidade (João 10:11).
  4. Graça Irresistível: A graça de Deus é eficaz e não pode ser resistida pelos eleitos (João 6:37).
  5. Perseverança dos Santos: Aqueles que são verdadeiramente salvos jamais perderão sua salvação (Filipenses 1:6).

O Calvinismo enfatiza a soberania de Deus em todas as coisas, incluindo a salvação. Para os calvinistas, a salvação é inteiramente um ato da vontade divina, e o homem não tem capacidade de contribuir para sua redenção.

O Arminianismo: O Livre-Arbítrio e a Graça Cooperativa

O Arminianismo, desenvolvido por Jacó Armínio como uma resposta ao Calvinismo, também pode ser resumido em cinco pontos que contrastam com a TULIP:

  1. Depravação Parcial: O homem é pecador, mas, pela graça preventiva de Deus, tem capacidade de responder ao evangelho (João 1:9).
  2. Eleição Condicional: Deus escolhe os que creem em Cristo, com base na fé que Ele prevê (Romanos 8:29-30).
  3. Expiação Universal: Cristo morreu por todos, mas a salvação é aplicada apenas aos que creem (1 Timóteo 2:4).
  4. Graça Resistível: O homem pode resistir à graça de Deus e rejeitar a salvação (Atos 7:51).
  5. Possibilidade de Apostasia: Os crentes podem cair da graça se abandonarem a fé (Hebreus 6:4-6).

O Arminianismo destaca o livre-arbítrio humano e a responsabilidade do indivíduo em aceitar ou rejeitar a oferta de salvação. Para os arminianos, a graça de Deus é universal e cooperativa, dependendo da resposta humana.

Os Ensinamentos de Jesus: A Verdade Acima dos Sistemas

Enquanto o Calvinismo e o Arminianismo tentam sistematizar a salvação, os ensinamentos de Jesus nas Escrituras oferecem uma visão que transcende categorias teológicas humanas. Jesus não endossou um sistema doutrinário específico, mas proclamou verdades que equilibram a soberania de Deus e a responsabilidade humana. Vamos analisar alguns aspectos centrais à luz das palavras de Cristo:

  1. A Condição Humana e a Necessidade de Graça: Jesus afirmou que ninguém pode vir a Ele sem que o Pai o atraia (João 6:44), ecoando a ideia calvinista da incapacidade humana sem a intervenção divina. No entanto, Ele também convidou todos a virem a Ele (Mateus 11:28), sugerindo uma oferta universal de salvação, alinhada ao Arminianismo.
  2. A Soberania de Deus e a Escolha Divina: Jesus falou da eleição divina, dizendo que o Pai deu a Ele aqueles que seriam salvos (João 17:6). Contudo, Ele também enfatizou a responsabilidade humana, exortando as pessoas a crerem e se arrependerem (Marcos 1:15). Em João 3:16, Jesus declarou que Deus amou o mundo de tal maneira que deu Seu Filho para que “todo aquele que n’Ele crer” tenha a vida eterna, apontando para uma salvação disponível a todos, mas condicionada à fé.
  3. A Expiação e o Propósito da Cruz: Jesus afirmou que daria Sua vida “em resgate de muitos” (Mateus 20:28), mas também disse que Sua morte atrairia “todos” a Si (João 12:32). Essas declarações sugerem tanto um propósito específico (os eleitos) quanto uma oferta universal, desafiando tanto a expiação limitada quanto a universal em termos absolutos.
  4. A Resposta Humana e a Perseverança: Jesus ensinou que a salvação requer uma resposta ativa de fé e obediência (João 8:31-32). Ele alertou sobre a possibilidade de abandonar a fé, como na parábola do semeador (Lucas 8:13), mas também prometeu segurança aos que permanecem n’Ele (João 10:28-29). Isso aponta para um equilíbrio entre a responsabilidade de perseverar e a garantia divina de proteção.

O Problema dos Sistemas Teológicos

O Calvinismo e o Arminianismo, embora fundamentados em passagens bíblicas, são construções humanas que tentam explicar mistérios divinos. Cada sistema enfatiza certos textos em detrimento de outros, criando tensões. Por exemplo, o Calvinismo pode subestimar passagens que chamam à responsabilidade humana (como Mateus 23:37, onde Jesus lamenta a rejeição de Jerusalém), enquanto o Arminianismo pode minimizar textos sobre a soberania divina (como Romanos 9:16).

Jesus, por outro lado, não buscou criar um sistema, mas revelar a verdade. Ele apresentou a salvação como um dom de Deus (João 4:10), que exige uma resposta de fé (João 6:29), sem resolver todas as tensões teológicas. Como disse o teólogo J.I. Packer, a Bíblia mantém uma “antinomia aparente” entre a soberania de Deus e a responsabilidade humana, que não deve ser resolvida por sistemas, mas aceita com humildade.

Conclusão: Seguir a Jesus, Não a Sistemas

O debate entre Calvinismo e Arminianismo revela a complexidade das Escrituras e a limitação das categorias humanas. Em vez de nos alinharmos rigidamente a um sistema, somos chamados a seguir a Jesus, que é “o caminho, a verdade e a vida” (João 14:6). Os ensinamentos de Cristo nos desafiam a confiar na soberania de Deus, responder com fé e viver em obediência, sem reduzir o evangelho a uma fórmula teológica.

Como cristãos, nosso foco deve estar em proclamar o evangelho a todos (Marcos 16:15), sabendo que Deus deseja que ninguém pereça (2 Pedro 3:9), mas que a salvação é um mistério que pertence a Ele (Deuteronômio 29:29). Que possamos, acima de Calvino ou Armínio, buscar a verdade de Jesus, vivendo para a glória de Deus e a edificação de Sua igreja.

Referências:

  • Bíblia Literal do Texto Tradicional (LTT).
  • Ensinamentos de Jesus nos Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João).

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