Por Pr. Rilson Mota
Vivemos em uma época marcada pela chamada “cultura do cancelamento,” uma prática comum nas redes sociais e em muitos círculos sociais que busca expor, criticar e muitas vezes excluir indivíduos ou grupos que cometeram algum erro, frequentemente sem permitir uma oportunidade para arrependimento ou reconciliação. Mas será que essa prática está em sintonia com os ensinamentos de Jesus? No contexto cristão, o perdão é um valor fundamental que desafia a lógica da cultura do cancelamento, chamando os fiéis a um caminho de amor e compaixão, mesmo diante de erros graves.
Mateus 6:14-15 oferece uma perspectiva direta sobre o perdão, com Jesus afirmando: “Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai perdoará as vossas ofensas.” Para os seguidores de Cristo, a disposição para perdoar é uma marca essencial da fé e uma reflexão do próprio caráter de Deus.
A Cultura do Cancelamento: O Que Ela Realmente Significa?
A cultura do cancelamento envolve a exclusão social de indivíduos que cometeram alguma ação considerada ofensiva ou moralmente incorreta. O “cancelamento” geralmente ocorre nas redes sociais, onde a exposição pública dos erros de uma pessoa gera um movimento de reprovação e boicote. Muitas vezes, a intenção por trás do cancelamento é justa: denunciar erros e proteger vítimas. No entanto, a prática tem se mostrado, em muitos casos, impiedosa e punitiva, limitando a possibilidade de perdão e restauração.
Em contraste, o Evangelho chama os cristãos a uma abordagem contrária à cultura do cancelamento. Jesus ensinou que somos todos pecadores (Romanos 3:23) e que precisamos de graça e perdão para sermos restaurados. Enquanto o cancelamento tende a ser definitivo e sem chance de redenção, o cristianismo propõe um caminho de arrependimento, perdão e transformação.
O Perdão como Mandamento Cristão
O ensino de Jesus sobre o perdão é direto e inegociável. Em Mateus 18:21-22, quando Pedro pergunta quantas vezes deve perdoar alguém que o ofende, Jesus responde: “Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete.” Essa resposta enfatiza que o perdão deve ser constante e ilimitado. Diferente da cultura do cancelamento, que busca retribuição ou vingança, o perdão cristão é um reflexo da graça que recebemos de Deus.
Jesus foi enfático ao ensinar que, assim como fomos perdoados, devemos perdoar. Em Colossenses 3:13, Paulo ecoa esse princípio: “Suportem-se uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor lhes perdoou.” O perdão, portanto, é uma atitude essencial para o cristão, pois ele entende que também é falho e que depende da misericórdia de Deus.
O Perigo do Orgulho e do Farisaísmo no Cancelamento
A cultura do cancelamento pode alimentar um comportamento semelhante ao dos fariseus na época de Jesus, que frequentemente apontavam e condenavam publicamente os pecados alheios, esquecendo-se de sua própria pecaminosidade. Em Lucas 18:9-14, Jesus conta a parábola do fariseu e do publicano, destacando a postura arrogante de quem se julga superior aos outros e a atitude humilde de quem reconhece suas falhas.
A cultura do cancelamento frequentemente ignora a compaixão e a empatia, focando em destacar as falhas alheias. Esse comportamento, muitas vezes motivado pelo orgulho, contradiz o espírito do Evangelho, que chama os cristãos a uma postura humilde e compassiva, sabendo que todos carecem da graça divina.
O Perdão como Caminho de Restauração
No cristianismo, o perdão não é uma negação da justiça, mas um caminho para a restauração. Quando Jesus perdoou a mulher adúltera em João 8:1-11, Ele não ignorou seu erro, mas ofereceu a ela uma nova chance, dizendo: “Nem eu te condeno; vai e não peques mais.” A resposta de Jesus é um exemplo do equilíbrio entre compaixão e transformação. Em vez de “cancelá-la” ou destruí-la com críticas, Ele lhe dá a oportunidade de uma nova vida.
Da mesma forma, o perdão cristão busca restaurar, não aniquilar. Jesus ensina que devemos confrontar o pecado, mas com o desejo de ver a pessoa redimida. Esse é o espírito de Gálatas 6:1: “Irmãos, se alguém for surpreendido em alguma falta, vocês, que são espirituais, devem restaurá-lo com mansidão.” Esse é o verdadeiro coração do Evangelho: restaurar aqueles que erraram, não apenas acusá-los.
Viver o Perdão no Século 21
No contexto atual, onde a impaciência e o julgamento instantâneo parecem dominar as relações humanas, os cristãos são chamados a ser um contraste vivo da cultura do cancelamento. Isso significa não apenas evitar julgar e condenar, mas também ser agentes de perdão e reconciliação. Em Efésios 4:31-32, Paulo exorta os crentes: “Livrem-se de toda amargura, indignação e ira, gritaria e calúnia, bem como de toda maldade. Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus os perdoou em Cristo.”
Ser um cristão em tempos de cancelamento é um desafio, pois requer uma postura contracultural de compaixão e misericórdia. Viver o perdão é um ato de fé e coragem, pois implica lidar com as próprias feridas e oferecer o mesmo amor que Cristo nos ofereceu.
Conclusão
A cultura do cancelamento representa um desafio para os cristãos que desejam viver conforme os ensinamentos de Cristo. Embora o mundo busque retribuição e exclusão, a fé cristã ensina que o perdão é o caminho para a verdadeira transformação. Ao perdoar, seguimos o exemplo de Cristo, que nos ensinou a amar até nossos inimigos e a buscar a restauração em vez da destruição.
Que os cristãos possam ser luz em meio a essa cultura, vivendo e proclamando o perdão que receberam. Afinal, se Cristo nos perdoou de tão grandes pecados, como podemos negar o perdão aos outros? Como Jesus disse em Mateus 5:7, “Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia.”
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