O capítulo 7 de Hebreus é uma passagem rica em significado teológico e nos oferece uma compreensão profunda sobre a natureza do sacerdócio de Melquisedeque e como ele prefigura o sacerdócio eterno de Jesus Cristo. Nesta análise, veremos como Hebreus 7 aborda o dízimo e o sacerdócio levítico em contraste com a superioridade de Cristo como sumo sacerdote e o impacto disso para os gentios convertidos a Cristo.
O Contexto de Hebreus 7: Melquisedeque e o Sacerdócio de Cristo
O autor de Hebreus começa descrevendo Melquisedeque, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, que abençoou Abraão e a quem Abraão entregou o dízimo dos despojos (Hebreus 7:1-2). O ato de Abraão ao dar o dízimo a Melquisedeque foi significativo porque Melquisedeque não era da linhagem de Levi, e ainda assim, recebeu a oferta de Abraão, o que indica sua autoridade espiritual superior.
Melquisedeque, que aparece brevemente em Gênesis 14:18-20, é descrito como um tipo de Cristo – um sacerdote eterno, sem genealogia conhecida e sem início ou fim (Hebreus 7:3). O autor de Hebreus usa essa figura para mostrar que o sacerdócio de Cristo é de uma ordem superior à do sacerdócio levítico. Diferente dos sacerdotes levitas que eram humanos, falíveis e temporários, Cristo é o sumo sacerdote eterno que oferece um sacrifício perfeito e definitivo.
O Dízimo na Lei e Sua Função
Sob a Lei Mosaica, os dízimos eram uma obrigação para os israelitas, e a Lei determinava que eles deveriam ser dados aos levitas, que eram responsáveis pelo serviço no templo e pelo culto a Deus. Números 18:21-26 explica que os dízimos eram a herança dos levitas, pois eles não receberam uma porção de terra como os outros israelitas.
O dízimo, portanto, fazia parte da estrutura cerimonial e sacrificial da antiga aliança, intimamente ligada ao sacerdócio levítico. No entanto, em Hebreus 7:11-12, o autor deixa claro que o sacerdócio levítico, embora importante, era imperfeito e provisório: “Se, portanto, a perfeição pudesse ser atingida por meio do sacerdócio levítico (pois sobre ele foi dada a lei ao povo), por que seria ainda necessário que surgisse outro sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque, e não segundo a ordem de Arão?”.
Isso implica que, com a vinda de Cristo, a Lei Mosaica e suas exigências, incluindo o dízimo obrigatório, não são mais aplicáveis aos crentes da nova aliança. Em Hebreus 7:12, o texto afirma: “Pois, quando há mudança de sacerdócio, necessariamente há também mudança de lei”. Esta declaração é crucial, pois estabelece que o sistema sacrificial e legal do Antigo Testamento, que incluía o dízimo, foi substituído pelo novo sacerdócio de Cristo.
O Dízimo e os Gentios Convertidos a Cristo
Hebreus 7 mostra que o sacerdócio levítico foi substituído por um sacerdócio superior – o de Cristo. Consequentemente, os crentes, incluindo os gentios convertidos, não estão mais sob a Lei Mosaica. Paulo reforça esse ponto em Romanos 6:14, quando diz: “Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça.”
Para os gentios convertidos, a imposição do dízimo como um mandamento legal não se alinha com o ensino do Novo Testamento. Na nova aliança, a prática de ofertas e doações é guiada pela generosidade e liberdade em Cristo, e não pela obrigação legal. 2 Coríntios 9:7 é claro nesse ponto: “Cada um contribua segundo propôs no seu coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria.” Aqui, vemos que o padrão de doação cristã não está mais preso à obrigação do dízimo, mas à disposição voluntária e alegre do coração.
A Superioridade de Cristo e a Nova Aliança
O restante de Hebreus 7 enfatiza a superioridade de Cristo como sumo sacerdote. Enquanto os sacerdotes levíticos eram mortais e precisavam oferecer sacrifícios continuamente, Cristo, com Seu sacrifício único e perfeito, intercede para sempre pelos crentes (Hebreus 7:23-25). O sacerdócio de Cristo não é temporário, mas eterno, e Sua obra na cruz é suficiente para redimir completamente aqueles que vêm a Deus por meio dEle.
Hebreus 7:22 afirma que Jesus se tornou o fiador de uma aliança superior. Isso significa que, como crentes da nova aliança, estamos sob uma nova ordem espiritual, onde a salvação é obtida pela fé em Cristo e não pela observância de leis cerimoniais ou rituais da antiga aliança, como o dízimo.
Conclusão
Hebreus 7 deixa claro que o sacerdócio de Cristo é superior ao sacerdócio levítico e, com essa mudança, há também uma mudança na Lei. O dízimo, que fazia parte da Lei Mosaica e estava intimamente ligado ao sacerdócio levítico, não é mais aplicável aos crentes da nova aliança. Cristo cumpriu a Lei, e agora, sob a nova aliança, vivemos pela graça e não pela obrigação legal. Para os gentios convertidos a Cristo, o dízimo não deve ser imposto como um mandamento, mas a generosidade deve ser guiada pelo Espírito, com alegria e liberdade.
A obra de Cristo é suficiente, e Ele é o nosso sumo sacerdote eterno. Nele encontramos tudo o que precisamos para viver uma vida plena e generosa, em gratidão e liberdade.
Pr. Rilson Mota
Comunidade Amor Real – Guarapuava
Deixe um comentário